Era dia dez. O dez já é um número particularmente bonito. Bem redondo. A menina estava nervosa, ansiosa, feliz. Naquele dia encontraria o seu rapaz. Olhou-se no espelho por bastante tempo e então saiu de casa. Sua aula de inglês nunca pareceu tão longa (She’s at home. Come on, repeat..). Os ponteiros não andavam. Ouviu tic-tac e logo olhou o relógio. Sorriu, envergonhada. Era apenas o seu coração, pulando.
Os ponteiros resolveram ajudá-la e voltaram a andar. Sua aula acabou e ela foi imediatamente ao lugar marcado. Mal conseguia lembrar das lições que havia acabado de fazer. Caminhava pelas ruas com uma leveza invejável. Tenho certeza que quem passava por ela se envergonhava de estar triste, porque aqueles olhos felizes constrangiam.
Então ela pegou o ônibus. Sua barriga esfriou, suas mãos suaram. Boba, citava Antoine de Saint-Exupéry: “Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz.” E aquele era, de fato, o horário marcado. O destino e suas coincidências poéticas, pensou.
Quatro da tarde. Seu rapaz – que sequer era seu, mas gostava de chamá-lo assim – havia chegado. Estranhamente, seu coração se comportou. Suas mãos não suavam mais, seu riso era tímido, mas puro. Ele a fazia tremer por dentro. Ela se derretia a cada olhar.
Decidiram caminhar um pouco. Ela não conseguia se concentrar na conversa. Tudo por dentro era um misto de ansiedade e leveza. Uma cama elástica para as emoções e, logo acima, um aparador que a jogava de volta pra terra. Até hoje ela não sabe dizer como, mas aconteceu. No meio da conversa, ele a pegou pela cintura e a beijou. Seu coração finalmente se acalmou. Era a felicidade.
Ela foi para casa disputando com uma pena, pra saber quem era mais leve. Podia sentir o cheiro do seu rapaz na sua blusa, lembrar dos seus lábios macios. Não sabia se eles se veriam outra vez, mas aquele beijo era seu. Estava guardado. E nunca sairia de dentro dela.