terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Lovesong

   Era uma manhã de sexta. E seria uma manhã de sexta como todas as outras do ano se não fosse por um detalhe: Ele. Abriu os olhos, se olhou no espelho e viu as roupas espalhadas no chão. Seu cabelo estava desarrumado e um sorriso abriu por debaixo de algumas mechas espalhadas.
   Ela parou alguns segundos e ficou olhando aquele rosto tão conhecido. Cada centímetro dele era familiar. Ela conhecia cada poro, cada curva que os lábios e cílios faziam. O beijou esperando que acordasse - o que, obviamente, ele não fez. Fez mais algumas tentativas e desistiu. Se aninhou naqueles braços e fechou os olhos.
   A vida nunca havia sido tão doce de levar. Cada detalhe era observado, cada dia do futuro era esperado com um suspiro. O amor, que antes era pesado, agora era motivo pra um cheiro no pescoço adormecido e brilho nos olhos.
   Sua vontade era que aquele momento não acabasse. Queria permanecer ali, acariciando aquele rosto, dando beijos suaves e sentindo a paz passear no espaço fino entre os dois corpos. Aquele ritual aconteceria pelos próximos setenta anos da sua vida.


Sussurrou: Eu amo você.
O amor tinha acabado de voltar.

domingo, 18 de dezembro de 2011

Dez.


   Era dia dez. O dez já é um número particularmente bonito. Bem redondo. A menina estava nervosa, ansiosa, feliz. Naquele dia encontraria o seu rapaz. Olhou-se no espelho por bastante tempo e então saiu de casa. Sua aula de inglês nunca pareceu tão longa (She’s at home. Come on, repeat..). Os ponteiros não andavam. Ouviu tic-tac e logo olhou o relógio. Sorriu, envergonhada. Era apenas o seu coração, pulando.
   Os ponteiros resolveram ajudá-la e voltaram a andar. Sua aula acabou e ela foi imediatamente ao lugar marcado. Mal conseguia lembrar das lições que havia acabado de fazer. Caminhava pelas ruas com uma leveza invejável. Tenho certeza que quem passava por ela se envergonhava de estar triste, porque aqueles olhos felizes constrangiam.
   Então ela pegou o ônibus. Sua barriga esfriou, suas mãos suaram. Boba, citava Antoine de Saint-Exupéry: “Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz.” E aquele era, de fato, o horário marcado. O destino e suas coincidências poéticas, pensou.
   Quatro da tarde. Seu rapaz – que sequer era seu, mas gostava de chamá-lo assim – havia chegado. Estranhamente, seu coração se comportou. Suas mãos não suavam mais, seu riso era tímido, mas puro. Ele a fazia tremer por dentro. Ela se derretia a cada olhar.
   Decidiram caminhar um pouco. Ela não conseguia se concentrar na conversa. Tudo por dentro era um misto de ansiedade e leveza. Uma cama elástica para as emoções e, logo acima, um aparador que a jogava de volta pra terra. Até hoje ela não sabe dizer como, mas aconteceu. No meio da conversa, ele a pegou pela cintura e a beijou. Seu coração finalmente se acalmou. Era a felicidade.
   Ela foi para casa disputando com uma pena, pra saber quem era mais leve. Podia sentir o cheiro do seu rapaz na sua blusa, lembrar dos seus lábios macios. Não sabia se eles se veriam outra vez, mas aquele beijo era seu. Estava guardado. E nunca sairia de dentro dela.

domingo, 4 de dezembro de 2011

Sobre frios na barriga.




   Eu não vou me importar de parecer uma boba, sorrindo pela rua, pensando em você. As pessoas que me desculpem por estar assim tão feliz, mas a verdade é que todo mundo deveria ter um grande amor. Sim, porque há diferença entre um beijo numa sexta à noite e um domingo à tarde de pijamas.
   O amor nos deixa coloridos, aumenta a percepção das coisas. O céu nunca é tão bonito como quando estamos apaixonados. As flores aparecem, os sorrisos ficam mais brancos e as gargalhadas mais presentes. Ficamos ansiosos, inseguros – “será que essa calça tá boa?” –, nervosos e estranhamente felizes. A felicidade de quem procura desenhos nas nuvens.
   Ter alguém pra amar é deixar até mesmo o espelho impaciente, escolher filmes – que, honestamente, não serão vistos –, ter cada vez mais fichas no cinema e um lugar preferido para descansar a cabeça. É ter alguém para confiar cada detalhe da sua vida, cada segundo, cada sentimento. É olhar nos olhos desse alguém e poder dizer: “É, só tinha de ser com você.”*

*Só tinha de ser com você – Tom Jobim